LETARGIA ESPIRITUAL DEFINHA A IGREJA MISSIONÁRIA
1. DEFININDO O TERMO LETARGIA
A
palavra letargia do original latim “lethargia” é definida como: (“lethe” = esquecimento e “argia” = inacção) a perda temporária e
completa da sensibilidade e do movimento por causa fisiológica, dando ao corpo
a aparência de morte, deixando o indivíduo num estado mórbido. Este é um problema de saúde em que a ciência está
tentando explicar, pois vem sendo estudado pela medicina moderna e por vários
pesquisadores nas áreas da Psiquiatria e Psicologia.
Desta forma,
como identificar um indivíduo em estado letárgico? O sintoma fisiológico mais
evidente é a imobilidade do corpo e o cansaço físico permanente em extremo.
Os membros do corpo tornam-se inflexíveis, a respiração e o pulso ficam
praticamente imperceptíveis, as pupilas dilatadas e sem reação à luz. Há casos em que o paciente em letargia, apesar
da inércia absoluta, tudo percebe e compreende, mas se encontra totalmente
impossibilitado de reagir de qualquer forma. Por motivo da atividade psíquica
conservada durante esse estado letárgico, dá-se o nome de letargia lúcida.
2.
A LETARGIA ESPIRITUAL DA IGREJA.
Entende-se por letargia
espiritual um estado de sonolência quanto às coisas espirituais. Seus sintomas
podem ser identificados das seguintes formas:
1. “A imobilidade”; 2. “A inércia”; 3. “A suspensão”;
4. “A insensibilidade espiritual”; 5.
“O comodismo ministerial”.
Jesus mandou o apóstolo João escrever o seguinte:
E ao anjo da
igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e
Verdadeira, o princípio da criação de Deus. Eu sei as tuas obras, que nem és
frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não
és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou
enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e
miserável, e pobre, e cego, e nu)”. (BÍBLIA SAGRADA, ARC, 2009. Ap 3.14-20)
A
repreensão de Cristo à esta igreja diz respeito ao seu estado letárgico, vivendo num profundo sono espiritual. Laodicéia
não era fria (indiferença completa e manifesta); e nem quente (de zelo
fervoroso), era morna, tépida e
superficial. Dizem que a cidade de Laodicéia não tinha abastecimento de água
próprio. A água precisava ser canalizada de duas fontes: ou das frias montanhas
de Colossos ou das terapêuticas fontes de águas quentes de Hierápolis. Quando
essas duas fontes chegavam à cidade, a água na cidade estava morna. Viajantes
que passavam pela cidade descobriam perto de Hierápolis lindos mananciais.
Cansados e sedentos, paravam lá para matar a sede. Mas viam que as águas eram
mornas. Talvez nada naquela hora lhes fosse pior. Por isso, Jesus faz uma
comparação ao repreender essa igreja afirmando que estava a ponto de vomitá-la.
Dentre
os sintomas identificados que contribuíram para o estado letárgico de
Laodicéia, destaca-se “a mornidão”: tepidez dos gestos e das ações; a falta de
vigor e motivação espiritual. Este último sintoma precede os cinco em destaques
nesta reflexão. Porém, faz-se necessário analisá-los para evidenciar a letargia
ministerial em que se encontra várias igrejas modernas.
3.
SINTOMAS DE UMA IGREJA EM ESTADO DE LETARGIA
O primeiro sintoma de uma igreja em estado letárgico
espiritual é “a imobilidade”. Pode-se entender que isto se refere a
incapacidade de se mover. Uma igreja imóvel só consegue se mover por vista, e
não consegue exercer a fé (2Co 5.7). As coisas naturais intensificaram-se de
tal maneira ao ponto de comparar o “corpo de Cristo” simplesmente à uma
comunidade religiosa que oferece celebrações litúrgicas às famílias nos finais
de semana. A visão que se tem de muitas igrejas modernas são àquelas que se
destacam numa teologia da prosperidade afirmando a todos que Jesus vai resolver
os seus “problemas”. Este conceito não se difere da supremacia de Nosso Senhor
Jesus Cristo, no entanto, torna-se perigoso, pois conduz a um materialismo
obsessivo em detrimento da fé, semelhantemente aos crentes da época de Jesus
que iam ao seu encontro em busca de prosperidade financeira (Jo 6.26,27).
Jesus referiu-se à Igreja de Laodicéia como miserável
e pobre, mandando João escrever o seguinte: “como dizes: Rico sou, e estou
enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e
miserável, e pobre, e cego, e nu)” (Ap 3.17). Segundo alguns pesquisadores, Laodicéia
era uma cidade que se orgulhava de sua riqueza. No ano 61 d.C., a cidade tinha
sido parcialmente destruída por um terremoto, mas seus cidadãos rejeitaram a
ajuda do Imperador Romano, afirmando que eles mesmos poderiam reconstruir
sozinhos, sua cidade.
Mais tarde, a cidade foi destruída por um terremoto e abandonada. Hoje, de Laodicéia só
existem ruínas.
Mais tarde, a cidade foi destruída por um terremoto e abandonada. Hoje, de Laodicéia só
existem ruínas.
A
imobilidade leva a igreja a incredulidade e ao narcisismo, envenenando-se no
orgulho e na falta de amor. Segundo a mitologia grega, Narciso foi um jovem
muito belo que se orgulhava tanto de si mesmo, até que um dia ele estava
observando a sua beleza numa lagoa conhecida como eco, caiu na lagoa e se
definhou, chegando a expirar. Este é o retrato de muitas igrejas, por causa dos
mais lindos e belos templos construídos, as arrecadações favoráveis na receita
mensal, pensam que Deus está aprovando tudo o que faz, definhando outros
conceitos importantes que a tirarão da imobilidade espiritual.
Para
Agostinho: “o orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece
grande, mas não é sadio”. Isso é tão perigoso que pode levar o homem a comer
capim, como foi o caso de Nabucodonosor (Dn cap. 4). Por isso, Agostinho também
afirmou que: “o orgulho é tão natural na vida do homem sem Deus, que ele cresce
em seu coração como erva daninha num jardim regado, ou como um mato na beira de
um riacho”.
O
segundo sintoma é a inércia. Em eclesiologia este conceito refere-se ao
comodismo improdutivo. Na liturgia cristã, ela pode ser definida como a
incapacidade de interagir de qualquer maneira no ambiente de culto: não canta,
não louva, não adora, não ora, não participa de nada, a única preocupação é com
a hora de terminar.
O
estado mórbido da Igreja moderna tornou-se tão notório que em muitos casos, até
se usa a própria palavra de Deus fora de contexto como uma justificativa da
improdutividade espiritual e ministerial. Muitos dizem: “eu não fui chamado
para pregar”; “eu não fui chamado para fazer missões”; e etc. Mas, não atentam
verdadeiramente ao ide imperativo de Jesus (Mc 16.15). O que se percebe nesta
geração egocêntrica, utópica, inexorável e inerte é que muitos querem ser
mantenedores da obra de Deus. Com isso, a ideia não é refutar este princípio
tão relevante na igreja. No entanto, deve-se observar que é muito mais fácil
justificar a passividade no ato de ir, se tornando ativo no ato de contribuir,
deixando de vivenciar em si próprio a realidade empírica da obra missionária da
igreja que visa despertar o crente espiritualmente, motivando-o para um clamor
das almas perdidas. Passividade é o
mesmo que “permitir que o
tempo passe, sem participar como agente de construção”.
O
terceiro sintoma da letargia espiritual é “a suspensão”, ou seja, a interrupção
temporária ou definitiva de uma atividade, deve-se observar que muitas igrejas
planejam fazer missões, cantam louvores missionários que comovem tanto aos que
cantam quanto aos que ouvem, pregam sobre missões. Mas isso não passa de
liturgias religiosas, e não saem do planejamento, alegando falta de recursos
humanos e financeiros, e outros meios que poderiam contribuir para o desempenho
missionário das referidas igrejas.
O
Pastor José Hélio de Lima, em sua obra: “Onde
estão os obreiros?”, destaca o seguinte:
“Pois estou certo de que ninguém que foi salvo por
Cristo recebeu um espírito de preguiça ou de inútil. A questão então é de
consciência do que fazer para viver o propósito do Eterno Salvador” (LIMA,
2011, p.11). A suspensão
pode ser considerada como as funções vitais do corpo que parecem não funcionar, não há expressão
de vida. Somos membros do corpo de Cristo. Missão não é chamada específica e
seletiva, pois a mesma não se limita somente àqueles que são enviados para pregar
em outros lugares, seja no Brasil ou no exterior. Mas, é um conceito amplo, e
tem como um de seus objetivos realizar o ide imperativo de Jesus, a tempo e
fora de tempo (2Tm 4.2), independentemente de lugar, posição social, distinção
de raça, e diferença cultural (Mc 16.15), pois todos fomos inseridos no Corpo de
Cristo para produzirmos frutos para Deus (Jo 15.15-16; 1Co 12.22).
O
quarto sintoma é “a insensibilidade espiritual”.
Nela os 5 sentidos são bloqueados:
visão, audição, paladar, tato, olfato. Não há motivação para fazer missões. Neste
aspecto, pode-se destacar a cegueira espiritual, pois a mesma está associada a
Igreja de Laodicéia. Esta última, era uma cidade considerada como um
grande centro comercial e industrial. Ali havia indústrias de lã, de produtos
medicinais e de roupas. Destacavam-se em Laodicéia suas águas térmicas e um
produto para os olhos, fabricado por uma escola de medicina da cidade. Por
isso, que Jesus repreende essa igreja da seguinte forma: “Aconselho-te (...); e
que unjas os olhos com colírio, para que vejas” (Ap 3.18).
A
cegueira espiritual é um estado letárgico de muitas igrejas modernas, pois as
mesmas estão ofuscadas para missões; perderam a sensibilidade e o amor pelos
seres humanos; não têm prazer de irem ao hospital visitar os doentes, exceto os
seus familiares; têm aversão às prisões em evangelizar os presos (Mt 25.31-46);
muitas já se sentem tão espirituais, que tais princípios podem ser
constrangedores às posições que os seus membros ocupam perante à sociedade hodierna.
Desta forma, tais igrejas não se diferem da igreja doente de Laodicéia, pois
esta última se sentia tão abastada que parecia não precisar de nada (Ap 3.17).
É importante observar que a carta à igreja de Laodicéia foi a última escrita
por João, e atualmente, tal igreja não existe mais. O nome Laodicéia significa
“direito do povo”, essa igreja é um protótipo da Igreja dos últimos tempos. Uma
Igreja fria, mórbida, insensível, fraca, cega espiritualmente, que entregou “o
direito do povo” nas mãos dos adversários. Estando num estado letárgico. Seria
este o porquê de Deus ter abreviado os dias? (Mt 24.12,22).
Por
último, identifica-se “o comodismo ministerial”. Para o filósofo Sócrates: “Uma
vida não analisada, não vale a pena ser vivida”. Essa afirmativa parece com o
que Paulo afirmou quando escrevia à igreja de Corinto com relação à santa ceia,
ele disse: “examine-se, pois o homem a si mesmo, (...)” (1Co 11,28). Outra
afirmação de Sócrates foi: “Conhece-te a ti mesmo”. Só Deus, por intermédio do
Espírito Santo, pode fazer o crente reconhecer as suas misérias (Jo 16.8-11),
isso leva à conscientização do comodismo ministerial em que se vive atualmente
(1Tm 4.14; 2Tm 1.6; 2.15,20). No entanto, este princípio é manifesto quando a
igreja dá ouvidos à voz de Deus (Hb 3.7-8). Foi Jesus que abriu os olhos
espirituais de Paulo (At 9.15-18; Gl 1.15-16). Por isso, que Paulo orou a Deus
pelos cristãos de Éfeso por espírito de sabedoria e de revelação (Ef 1.17).
Neste sentido, revelação significa “tirar o véu”. Em muitos casos nos tornamos
omissos por causa do comodismo espiritual em que vivemos, sabendo que a omissão
pode levar à sérias consequências (Jz 5.23).
4.
CONCLUSÃO
Deus repreende somente àqueles a quem ama (v.
19). Esta prova de amor se dá pelo fato de que Deus não demonstra nenhuma
imobilidade ou inércia em despertar sua igreja, levando à conscientização de
seu estado utópico em relação a comunhão com Ele e o seu serviço. Não se pode
vivenciar uma intimidade intensiva com Deus abnegando-se da sua obra
missionária. A igreja que não se envolve em missões é comparada a um vaso belo
e esplêndido (sem flores), feito para ser ornamentado de flores abrilhantando
um ambiente. O crente é uma obra prima de Deus, feita para as boas obras (Ef 2.
10), essas boas obras também estão relacionadas a disposição em fazer missões. A falta de compromisso com Deus e com a igreja
é uma das causas para a frieza espiritual. Deus está à procura de pessoas fieis
(Sl 101.6), e comprometidas com a sua obra.
O zelo e o arrependimento são os fatores essenciais
para reascender as chamas que estão apagadas no coração do cristão. No entanto,
isso vai muito mais além do que um simples processo de conscientização, em vez
de o crente ficar esperando um anjo descer do céu para renová-lo e capacitá-lo
para a sua obra, ele deve estar disposto em “querer fazer” e não continuar na
zona de conforto atribuindo a responsabilidade toda e exclusivamente à Deus
pela razão de não ter saído ainda desta miséria espiritual.
Deus está interessado em ornamentar esse vaso com as
mais lindas e belas flores celestiais, para abrilhantar o ambiente em que se
vive. O vaso é o crente, o ambiente é o contexto cristão e o mundo, as flores
são os dons do Espírito Santo (1Co 1.1-10), e do ministério para o
aperfeiçoamento dos santos e edificação da igreja (Ef 4.12). Portanto, disse
Jesus: “eis que estou à
porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua
casa, e com ele cearei, e ele comigo” (v. 20), está na hora de abrir as portas
para Jesus entrar e deixar Ele utilizar o vaso segundo a sua vontade. Se isso
acontecer, não haverá tempo para a frieza espiritual e nem para o desânimo
ministerial. O desejo de congregar, de estar envolvido com a obra de Deus serão
notórios e o crente será visto como um vencedor. Pois assim disse Jesus: “ao
que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu
venci, e me assentei com meu Pai no seu trono” (v. 21).
Deus abençoe a todos
Na paz de Cristo
Pr. Sérgio Cruz - Boa Vista/RR
Presidente da Convenção das Igrejas O Brasil Para Cristo nos estados AM/RR/AP
Apesar de ser escrito em 2016 continua atual. Deus te abençoe e continue usando poderosamente.
ResponderExcluirBem esplicativo é edificante que Jesus abençoe
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