sexta-feira, 27 de maio de 2016

LETARGIA ESPIRITUAL

LETARGIA ESPIRITUAL DEFINHA A IGREJA MISSIONÁRIA

1. DEFININDO O TERMO LETARGIA

A palavra letargia do original latim “lethargia” é definida como: (“lethe” = esquecimento e “argia” = inacção) a perda temporária e completa da sensibilidade e do movimento por causa fisiológica, dando ao corpo a aparência de morte, deixando o indivíduo num estado mórbido. Este é um problema de saúde em que a ciência está tentando explicar, pois vem sendo estudado pela medicina moderna e por vários pesquisadores nas áreas da Psiquiatria e Psicologia.

 Desta forma, como identificar um indivíduo em estado letárgico? O sintoma fisiológico mais evidente é a imobilidade do corpo e o cansaço físico permanente em extremo. Os membros do corpo tornam-se inflexíveis, a respiração e o pulso ficam praticamente imperceptíveis, as pupilas dilatadas e sem reação à luz. Há casos em que o paciente em letargia, apesar da inércia absoluta, tudo percebe e compreende, mas se encontra totalmente impossibilitado de reagir de qualquer forma. Por motivo da atividade psíquica conservada durante esse estado letárgico, dá-se o nome de letargia lúcida.

2. A LETARGIA ESPIRITUAL DA IGREJA.

Entende-se por letargia espiritual um estado de sonolência quanto às coisas espirituais. Seus sintomas podem ser identificados das seguintes formas: 1. “A imobilidade”; 2. “A inércia”; 3. “A suspensão”; 4. “A insensibilidade espiritual”; 5. “O comodismo ministerial”.

Jesus mandou o apóstolo João escrever o seguinte:

E ao anjo da igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e Verdadeira, o princípio da criação de Deus. Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu)”. (BÍBLIA SAGRADA, ARC, 2009. Ap 3.14-20)

A repreensão de Cristo à esta igreja diz respeito ao seu estado letárgico, vivendo num profundo sono espiritual. Laodicéia não era fria (indiferença completa e manifesta); e nem quente (de zelo fervoroso), era morna, tépida e superficial. Dizem que a cidade de Laodicéia não tinha abastecimento de água próprio. A água precisava ser canalizada de duas fontes: ou das frias montanhas de Colossos ou das terapêuticas fontes de águas quentes de Hierápolis. Quando essas duas fontes chegavam à cidade, a água na cidade estava morna. Viajantes que passavam pela cidade descobriam perto de Hierápolis lindos mananciais. Cansados e sedentos, paravam lá para matar a sede. Mas viam que as águas eram mornas. Talvez nada naquela hora lhes fosse pior. Por isso, Jesus faz uma comparação ao repreender essa igreja afirmando que estava a ponto de vomitá-la.

Dentre os sintomas identificados que contribuíram para o estado letárgico de Laodicéia, destaca-se “a mornidão”: tepidez dos gestos e das ações; a falta de vigor e motivação espiritual. Este último sintoma precede os cinco em destaques nesta reflexão. Porém, faz-se necessário analisá-los para evidenciar a letargia ministerial em que se encontra várias igrejas modernas.

3. SINTOMAS DE UMA IGREJA EM ESTADO DE LETARGIA

O primeiro sintoma de uma igreja em estado letárgico espiritual é “a imobilidade”. Pode-se entender que isto se refere a incapacidade de se mover. Uma igreja imóvel só consegue se mover por vista, e não consegue exercer a fé (2Co 5.7). As coisas naturais intensificaram-se de tal maneira ao ponto de comparar o “corpo de Cristo” simplesmente à uma comunidade religiosa que oferece celebrações litúrgicas às famílias nos finais de semana. A visão que se tem de muitas igrejas modernas são àquelas que se destacam numa teologia da prosperidade afirmando a todos que Jesus vai resolver os seus “problemas”. Este conceito não se difere da supremacia de Nosso Senhor Jesus Cristo, no entanto, torna-se perigoso, pois conduz a um materialismo obsessivo em detrimento da fé, semelhantemente aos crentes da época de Jesus que iam ao seu encontro em busca de prosperidade financeira (Jo 6.26,27).

Jesus referiu-se à Igreja de Laodicéia como miserável e pobre, mandando João escrever o seguinte: “como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu)” (Ap 3.17). Segundo alguns pesquisadores, Laodicéia era uma cidade que se orgulhava de sua riqueza. No ano 61 d.C., a cidade tinha sido parcialmente destruída por um terremoto, mas seus cidadãos rejeitaram a ajuda do Imperador Romano, afirmando que eles mesmos poderiam reconstruir sozinhos, sua cidade.
Mais tarde, a cidade foi destruída por um terremoto e abandonada. Hoje, de Laodicéia só
existem ruínas.

A imobilidade leva a igreja a incredulidade e ao narcisismo, envenenando-se no orgulho e na falta de amor. Segundo a mitologia grega, Narciso foi um jovem muito belo que se orgulhava tanto de si mesmo, até que um dia ele estava observando a sua beleza numa lagoa conhecida como eco, caiu na lagoa e se definhou, chegando a expirar. Este é o retrato de muitas igrejas, por causa dos mais lindos e belos templos construídos, as arrecadações favoráveis na receita mensal, pensam que Deus está aprovando tudo o que faz, definhando outros conceitos importantes que a tirarão da imobilidade espiritual.

Para Agostinho: “o orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio”. Isso é tão perigoso que pode levar o homem a comer capim, como foi o caso de Nabucodonosor (Dn cap. 4). Por isso, Agostinho também afirmou que: “o orgulho é tão natural na vida do homem sem Deus, que ele cresce em seu coração como erva daninha num jardim regado, ou como um mato na beira de um riacho”.

O segundo sintoma é a inércia. Em eclesiologia este conceito refere-se ao comodismo improdutivo. Na liturgia cristã, ela pode ser definida como a incapacidade de interagir de qualquer maneira no ambiente de culto: não canta, não louva, não adora, não ora, não participa de nada, a única preocupação é com a hora de terminar.

O estado mórbido da Igreja moderna tornou-se tão notório que em muitos casos, até se usa a própria palavra de Deus fora de contexto como uma justificativa da improdutividade espiritual e ministerial. Muitos dizem: “eu não fui chamado para pregar”; “eu não fui chamado para fazer missões”; e etc. Mas, não atentam verdadeiramente ao ide imperativo de Jesus (Mc 16.15). O que se percebe nesta geração egocêntrica, utópica, inexorável e inerte é que muitos querem ser mantenedores da obra de Deus. Com isso, a ideia não é refutar este princípio tão relevante na igreja. No entanto, deve-se observar que é muito mais fácil justificar a passividade no ato de ir, se tornando ativo no ato de contribuir, deixando de vivenciar em si próprio a realidade empírica da obra missionária da igreja que visa despertar o crente espiritualmente, motivando-o para um clamor das almas perdidas.  Passividade é o mesmo que “permitir que o tempo passe, sem participar como agente de construção”.
O terceiro sintoma da letargia espiritual é “a suspensão”, ou seja, a interrupção temporária ou definitiva de uma atividade, deve-se observar que muitas igrejas planejam fazer missões, cantam louvores missionários que comovem tanto aos que cantam quanto aos que ouvem, pregam sobre missões. Mas isso não passa de liturgias religiosas, e não saem do planejamento, alegando falta de recursos humanos e financeiros, e outros meios que poderiam contribuir para o desempenho missionário das referidas igrejas.

O Pastor José Hélio de Lima, em sua obra: “Onde estão os obreiros?”, destaca o seguinte:
“Pois estou certo de que ninguém que foi salvo por Cristo recebeu um espírito de preguiça ou de inútil. A questão então é de consciência do que fazer para viver o propósito do Eterno Salvador” (LIMA, 2011, p.11). A suspensão pode ser considerada como as funções vitais do corpo que parecem não funcionar, não há expressão de vida. Somos membros do corpo de Cristo. Missão não é chamada específica e seletiva, pois a mesma não se limita somente àqueles que são enviados para pregar em outros lugares, seja no Brasil ou no exterior. Mas, é um conceito amplo, e tem como um de seus objetivos realizar o ide imperativo de Jesus, a tempo e fora de tempo (2Tm 4.2), independentemente de lugar, posição social, distinção de raça, e diferença cultural (Mc 16.15), pois todos fomos inseridos no Corpo de Cristo para produzirmos frutos para Deus (Jo 15.15-16; 1Co 12.22).

O quarto sintoma é “a insensibilidade espiritual”. Nela os 5 sentidos são bloqueados: visão, audição, paladar, tato, olfato. Não há motivação para fazer missões. Neste aspecto, pode-se destacar a cegueira espiritual, pois a mesma está associada a Igreja de Laodicéia. Esta última, era uma cidade considerada como um grande centro comercial e industrial. Ali havia indústrias de lã, de produtos medicinais e de roupas. Destacavam-se em Laodicéia suas águas térmicas e um produto para os olhos, fabricado por uma escola de medicina da cidade. Por isso, que Jesus repreende essa igreja da seguinte forma: “Aconselho-te (...); e que unjas os olhos com colírio, para que vejas” (Ap 3.18).

A cegueira espiritual é um estado letárgico de muitas igrejas modernas, pois as mesmas estão ofuscadas para missões; perderam a sensibilidade e o amor pelos seres humanos; não têm prazer de irem ao hospital visitar os doentes, exceto os seus familiares; têm aversão às prisões em evangelizar os presos (Mt 25.31-46); muitas já se sentem tão espirituais, que tais princípios podem ser constrangedores às posições que os seus membros ocupam perante à sociedade hodierna. Desta forma, tais igrejas não se diferem da igreja doente de Laodicéia, pois esta última se sentia tão abastada que parecia não precisar de nada (Ap 3.17). É importante observar que a carta à igreja de Laodicéia foi a última escrita por João, e atualmente, tal igreja não existe mais. O nome Laodicéia significa “direito do povo”, essa igreja é um protótipo da Igreja dos últimos tempos. Uma Igreja fria, mórbida, insensível, fraca, cega espiritualmente, que entregou “o direito do povo” nas mãos dos adversários. Estando num estado letárgico. Seria este o porquê de Deus ter abreviado os dias? (Mt 24.12,22).

Por último, identifica-se “o comodismo ministerial”. Para o filósofo Sócrates: “Uma vida não analisada, não vale a pena ser vivida”. Essa afirmativa parece com o que Paulo afirmou quando escrevia à igreja de Corinto com relação à santa ceia, ele disse: “examine-se, pois o homem a si mesmo, (...)” (1Co 11,28). Outra afirmação de Sócrates foi: “Conhece-te a ti mesmo”. Só Deus, por intermédio do Espírito Santo, pode fazer o crente reconhecer as suas misérias (Jo 16.8-11), isso leva à conscientização do comodismo ministerial em que se vive atualmente (1Tm 4.14; 2Tm 1.6; 2.15,20). No entanto, este princípio é manifesto quando a igreja dá ouvidos à voz de Deus (Hb 3.7-8). Foi Jesus que abriu os olhos espirituais de Paulo (At 9.15-18; Gl 1.15-16). Por isso, que Paulo orou a Deus pelos cristãos de Éfeso por espírito de sabedoria e de revelação (Ef 1.17). Neste sentido, revelação significa “tirar o véu”. Em muitos casos nos tornamos omissos por causa do comodismo espiritual em que vivemos, sabendo que a omissão pode levar à sérias consequências (Jz 5.23).

4. CONCLUSÃO

Deus repreende somente àqueles a quem ama (v. 19). Esta prova de amor se dá pelo fato de que Deus não demonstra nenhuma imobilidade ou inércia em despertar sua igreja, levando à conscientização de seu estado utópico em relação a comunhão com Ele e o seu serviço. Não se pode vivenciar uma intimidade intensiva com Deus abnegando-se da sua obra missionária. A igreja que não se envolve em missões é comparada a um vaso belo e esplêndido (sem flores), feito para ser ornamentado de flores abrilhantando um ambiente. O crente é uma obra prima de Deus, feita para as boas obras (Ef 2. 10), essas boas obras também estão relacionadas a disposição em fazer missões. A falta de compromisso com Deus e com a igreja é uma das causas para a frieza espiritual. Deus está à procura de pessoas fieis (Sl 101.6), e comprometidas com a sua obra.
O zelo e o arrependimento são os fatores essenciais para reascender as chamas que estão apagadas no coração do cristão. No entanto, isso vai muito mais além do que um simples processo de conscientização, em vez de o crente ficar esperando um anjo descer do céu para renová-lo e capacitá-lo para a sua obra, ele deve estar disposto em “querer fazer” e não continuar na zona de conforto atribuindo a responsabilidade toda e exclusivamente à Deus pela razão de não ter saído ainda desta miséria espiritual.

Deus está interessado em ornamentar esse vaso com as mais lindas e belas flores celestiais, para abrilhantar o ambiente em que se vive. O vaso é o crente, o ambiente é o contexto cristão e o mundo, as flores são os dons do Espírito Santo (1Co 1.1-10), e do ministério para o aperfeiçoamento dos santos e edificação da igreja (Ef 4.12). Portanto, disse Jesus:  “eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (v. 20), está na hora de abrir as portas para Jesus entrar e deixar Ele utilizar o vaso segundo a sua vontade. Se isso acontecer, não haverá tempo para a frieza espiritual e nem para o desânimo ministerial. O desejo de congregar, de estar envolvido com a obra de Deus serão notórios e o crente será visto como um vencedor. Pois assim disse Jesus: “ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono” (v. 21).


Deus abençoe a todos

Na paz de Cristo

Pr. Sérgio Cruz - Boa Vista/RR
Presidente da Convenção das Igrejas O Brasil Para Cristo nos estados AM/RR/AP

2 comentários:

  1. Apesar de ser escrito em 2016 continua atual. Deus te abençoe e continue usando poderosamente.

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  2. Bem esplicativo é edificante que Jesus abençoe

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